A cada hora, sete pessoas recebem permissão para dirigir no Grande ABC, o que equivale a 163 novos motoristas por dia. Segundo levantamento feito pelo Detran (Departamento Estadual de Trânsito) a pedido da reportagem , 59.500 documentos foram emitidos em 2012, número 45% maior do que os 41.007 de 2010.
A permissão é dada ao candidato aprovado nas provas teórica e prática aplicadas pelo departamento. Após um ano, o condutor pode receber a CNH (Carteira Nacional de Habilitação), desde que não tenha cometido no período infração grave ou gravíssima ou seja reincidente em falta média. Nos sete municípios do Grande ABC, 1,4 milhão de pessoas possuem CNH em todas as categorias.
A cidade que registrou maior alta no total de novos motoristas foi a cidade de São Caetano, que passou de 2.567 para cerca de 5.700 permissões nos últimos três anos – alta de 122%. Por outro lado, São Bernardo teve o menor crescimento, de 3%, passando de 10.968 para algo em torno de 11.300 registros. Nenhum município da região apresentou diminuição.
Na avaliação do diretor de Fiscalização da Federação dos Trabalhadores em Auto-escola do Estado de São Paulo, Cristiano Campos Barbosa, o aumento é consequência da redução dos preços cobrados para a formação de condutores. “Hoje, o aluno gasta entre R$ 600 e R$ 700 para obter habilitação de carro e moto. Há cerca de cinco anos, era cobrado este mesmo valor, mas só para uma categoria.”
Barbosa elogia o processo de aprendizado e defende mais rigor na exigência de cursos de reciclagem. Atualmente, só volta para a auto-escola quem perde a CNH por atingir 20 pontos na carteira ou comete falta como embriaguez ao volante, por exemplo. “Na minha opinião, se o motorista levasse uma multa em período de 12 meses, já deveria ter de passar novamente pelas aulas. A infração demonstra que ele precisa rever as leis e o modo de dirigir”, justifica.
Já a engenheira Cristina Baddini, mestre em Transportes, atribui o crescimento no total de permissões a deficiências no transporte público. “Isso demonstra que as pessoas que fazem 18 anos querem se movimentar na cidade de forma individual. O transporte coletivo precisa melhorar muito para que não seja mais visto como uma alternativa ruim.”
INSEGURANÇA
Com o trânsito caótico no Grande ABC, o medo de dirigir se tornou comum. Para diminuir a hostilidade por parte dos motoristas mais experientes, a maquiadora Cibele Kellner Oliveira, 20 anos, recorreu a uma solução inusitada. Pouco depois de conseguir a CNH, em 2011, ela colocou na traseira de seu carro adesivo com o alerta: “Recém habilitada. Agradeço sua compreensão e paciência”. A ideia, do pai dela, surgiu depois que a jovem quase se envolveu em acidente. “Colocamos a mensagem para que as outras pessoas vissem que eu estava aprendendo e não se exaltassem em caso de erros cometidos”, conta.
A mãe da maquiadora, a aposentada Otília Kellner, 54, relata que o adesivo fez com que os outros condutores demonstrassem simpatia e solidariedade pela situação. “Teve uma vez que eu estava dirigindo o carro dela, quando um outro motorista parou do meu lado e me disse que a lanterna estava queimada. Ele achou que era eu a iniciante, e me alertou que eu poderia ser multada por isso”, lembra.
A ideia de Cibele é lei em alguns países como Inglaterra e Irlanda. Lá, o iniciante deve colar no veículo adesivo com a letra L, de learner (aprendiz, na tradução para o português).
Fonte: Diário do Grande ABC